domingo, 30 de janeiro de 2011

A vida é a vida,
não as suas consequências.

[...]

Não a mulher ou o homem
que te sussurram ao ouvido,
não os nossos pais, ou filhos,
não os nossos irmãos ou irmãs ou amigos,
velhos ou novos.
A vida não é nada disso.
A vida é a vida.

Bernardo Atxaga

Nosso medo mais profundo não é de sermos inadequados. Nosso medo mais profundo é de sermos poderosos além da medida. Perguntamos a nós mesmos ‘quem sou eu para ser brilhante, generoso, talentoso, fabuloso?’. Na verdade quem é você para não ser?

Akeelah and the Bee (2002).

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011


É preciso, é absolutamente preciso que tudo seja belo e inesperado.

Vinícius de Morais

Se eu pudesse me arrumar por dentro, tudo calminho nas gavetas.


Lygia Fagundes Telles

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

"O amor é importante, pombas."

Roberto Pompeu faz a melhor comparação que já li entre a frase de um grafiteiro num muro de São Paulo e dois versos do poema La Luna, de Jorge Luis Borges.

Palavras no muro

O amor é importante, pombas. No original, não é "pombas". É um palavrão, que também começa com "po". A frase, desenhada com as letras angulosas e sem curvas dos grafiteiros, nas últimas semanas tomou conta de muros, paredes e beiradas de viadutos de São Paulo. Enfim, um grafiteiro inteligente. Ou poético, ou pungente, dependendo do estado de espírito de quem o lê. "O amor é importante, po", de autoria desconhecida, eleva o grafite paulistano da habitual indigência ao nível dos clássicos do ramo produzidos no maio de 1968 francês – "A imaginação no poder", "Seja realista: exija o impossível", "É proibido proibir".

O segredo da frase é a palavrinha que começa com "po" aposta à oração principal. É o que faz que um pensamento banal adquira vísceras e atinja o leitor. "O amor é importante", sozinho, seria uma bobagem. Ocorre que o grafiteiro queria dizer exatamente isso, que o amor é importante. Encontrou um jeito de driblar o lugar-comum ao socorrer-se do palavrão. O palavrão contrapõe-se à pieguice do desabafo sentimental e o redime. A violência do expletivo chulo compensa a moleza do pensamento central. Produz-se o inesperado. E o rabisco na rua alcança o patamar da beleza literária.

Esse mesmo fenômeno de uma expressão secundária, na frase, sobrepor-se ao principal e salvá-la encontra-se em… (em quê? em quem? …prepare-se o leitor para saltar dos clandestinos assaltos aos muros de São Paulo para os textos antológicos da literatura universal) …em Jorge Luis Borges. Não que se queira comparar o desconhecido grafiteiro com o criador do Aleph (ou melhor: é o que se quer, sim; prepare-se o leitor para o sublime encontro entre um autor anônimo, possivelmente sujo, talvez faminto, quase certamente desocupado, cuja diversão é vagar pelas ruas da cidade nas horas vazias da noite, e um dos luminares da literatura do século XX). O recurso empregado em "O amor é importante, po" é o mesmo de dois versos do poema La Luna, de Borges:

"Según se sabe, esta mudable vida
Puede, entre tantas cosas, ser muy bella".

A ideia central, a de que a vida pode ser bela, é simplória como a de que o amor é importante. A maravilha dos versos se deve ao "segundo se sabe" com que se abrem e ao "entre tantas coisas" que precede a qualificação da vida. Eis, de novo, a mágica de componentes secundários da frase – dois, neste caso – tomarem o lugar do principal e o modificarem a ponto de conferir-lhe estatuto de obra de arte. O "segundo se sabe" prepara o espírito para algo já muito repisado, e com isso ameniza a banalidade do que virá a seguir, mas não está aí seu efeito principal. Mais relevante é que se trata de uma expressão marcadamente prosaica, frequente em peças de argumentação, aquelas em que se procura defender um ponto, como um editorial de jornal, uma tese acadêmica ou um arrazoado de advogado. Encontrá-la num poema, a escorar um luminoso momento de encantamento com a vida, produz um contraste da mesma família do palavrão sacado pelo grafiteiro para sublinhar o recado de que o amor é importante.

O "entre tantas coisas" abre ao infinito o leque de feições que pode assumir a vida. Nenhuma surpresa. A vida pode ser bela, mas pode ser muitas outras coisas, feia inclusive. "Vida", como mulher fácil, pode ir com qualquer adjetivo. Mas aí que está. Se a vida pode ser também feia, trágica, cruel, frustrante e dura, além de agradável, surpreendente ou reconfortante, quando nos damos conta de que, "entre tantas coisas", ela pode também ser bela, aí sim é que se torna mais bela ainda. Se Borges tivesse apenas escrito que a vida pode ser bela, que decepção, para um escritor de sua estatura. Seria como se o grafiteiro afirmasse que o amor é importante, e ponto final. Ao escrever que a vida "puede, entre tantas cosas, ser muy bella", ele a torna extraordinariamente bela, ofuscantemente bela.

Se a frase do grafiteiro é digna de Borges, como aqui se procurou demonstrar, a recíproca é verdadeira. Borges é também digno do grafiteiro. Não. Não dá para imaginar o argentino, spray na mão, a esgueirar-se na noite, em busca do muro mais imaculado para aplicar sua marca, isso não. Mesmo porque enxergava mal e podia acidentar-se. Mas dá para imaginar o "Según se sabe, esta mudable vida…" aplicado a um muro, uma parede, uma beirada de viaduto. O efeito seria o mesmo do "O amor é importante, po". O de uma pausa, uma surpresa e um renovador respiro, em meio à selva da cidade.


Roberto Pompeu de Toledo (Veja edição 2117, 17 de Jun de 2009).



Lembra que o plano
Era ficarmos bem?

Legião Urbana


sábado, 22 de janeiro de 2011

Os melhores momentos que ele jamais passou ao lado de alguém. Mas preferia mil vezes nunca tê-la conhecido.

Fernanda Young
A vertigem não é o medo de cair, é outra coisa. É a voz do vazio embaixo de nós, que nos atrai e nos envolve, é o desejo da queda do qual logo nos defendemos aterrorizados.

Milan Kundera

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011



A formosura é uma ilusão, e a beleza acaba, mas a mulher que teme ao Senhor, essa sim será louvada.


Provérbios 31.30

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

A morte não é a maior perda da vida. A maior perda da vida é o que morre dentro de nós enquanto vivemos.

Norman Cuisins
Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo - quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação.

Clarice Lispector

sábado, 15 de janeiro de 2011


Filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas de fato e de verdade.

1João 3.18

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011


Sofro por causa do meu espírito de colecionador-arqueólogo. Quero pôr o bonito numa caixa com chave para abrir de vez em quando e olhar.

Adélia Prado

É na escuta que o amor começa. E é na não-escuta que ele termina. Não aprendi isso nos livros. Aprendi prestando atenção.

Rubem Alves

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Não deveria doer assim, não foi o combinado.
A verdade é que, enquanto você estiver assim, nessa interminável agonia, esperando notícias que nunca chegam, vai deixar passar várias possibilidades interessantes ao seu redor. Claro, ninguém se compara a quem você aguarda, mas quem você aguarda não está disponível no momento. Poderá, inclusive, nunca estar.

Fernanda Young

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Machucamos com a voz, mas para torturar mesmo só com o silêncio.

Fabrício Carpinejar

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011



O sinal mais evidente da sabedoria é um constante bom humor.


Michel de Montaigne
A lucidez é um luxo que nem todos se podem permitir.

José Saramargo

Não quero olhar para trás, lá na frente, e descobrir quilômetros de terreno baldio que eu não soube cultivar. Calhamaços de páginas em branco à espera de uma história que se parecesse comigo. Não quero perceber que, embora desejasse grande, amei pequeno.


Ana Jácomo.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

E esse segredo é que, para viver plenamente, é preciso reconhecer que, com ou sem o rei sentado à mesa, com farra ou sem farra, na alegria ou na tristeza, cada momento presente é sempre uma grande ocasião.

Contardo Calligaris em "Carpe diem, aproveite o momento."

domingo, 2 de janeiro de 2011

E como já dizia Vinícius de Morais...

"Quem de dentro de si não sai, vai morrer sem amar ninguém."

sábado, 1 de janeiro de 2011

Feliz Ano novo gente bonita!



Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.


Carlos Drummond de Andrade