sexta-feira, 28 de novembro de 2014



Mulher nasce tendo que aprender a ser organizada. Mulher tem a incumbência de fazer caber sua imensidão dentro de um corpo pequeno. Acho que é por isso que não sobra uma caixa pro nada.


Jéssica Alves

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

  
Verbo Ser

Que vai ser quando crescer?
Vivem perguntando em redor. Que é ser?
É ter um corpo, um jeito, um nome?
Tenho os três. E sou?
Tenho de mudar quando crescer? 

Usar outro nome, corpo e jeito?
Ou a gente só principia a ser quando cresce?
É terrível, ser? Dói? É bom? É triste?
Ser; pronunciado tão depressa, e cabe tantas coisas?
Repito: Ser, Ser, Ser. Er. R.
Que vou ser quando crescer?
Sou obrigado a? Posso escolher?
Não dá para entender. Não vou ser.
Vou crescer assim mesmo.
Sem ser Esquecer. 


Carlos Drummond de Andrade 


Eu sei sorrir sozinha, me apaixono por mim frequentemente, marco encontros comigo mesma e me divirto neles. Converso comigo até dar sede. Canto para mim minhas músicas favoritas e me aplaudo no final. Gosto da minha companhia, sempre gostei.
Foi assim que eu aprendi que amar a si mesmo não tem nada a ver com egoísmo. Economizar  amor é o princípio da avareza. Quando nos amamos não gastamos o amor, ele se acumula. Ficamos aptos a amar o que está fora de nós também.

Jéssica Alves

segunda-feira, 24 de novembro de 2014


Gente delicada para só pra ouvir o coração. E depois que o escuta, escolhe continuar parado, só pra ouvir o coração do outro. O mundo carece dessas delicadezas. De gente que para enquanto os outros correm. Gente que, parando, consegue chegar bem longe.

Jéssica Alves
Ausência 

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

Carlos Drummond de Andrade

sexta-feira, 21 de novembro de 2014


Fujo de todos os pensamentos que me levam a eternizar o passado e antecipar o futuro. Não quero cair nessa armadilha do tempo. O que passou já é flor murcha. O que virá ainda está na semente. O melhor que posso fazer pelo meu amanhã é adubar bem a minha terra, plantar as sementes nos melhores lugares, tirar o que existir de erva daninha, me abrir para o sol e para a chuva. Você vê? É muito trabalho para o hoje. Não sobra tempo para o antes e o depois, não deveria sobrar. O que eu fui e o que ainda virei a ser são coisa pouca perto do que estou sendo agora.

Jéssica Alves

terça-feira, 18 de novembro de 2014



Existe um pássaro dentro de mim que bate as asas quando eu leio poesia e me faz sentir cócegas por dentro. Depois de muito ler, eu ando por aí e ele não sabe diferenciar o que é poesia escrita e o que não é. Então começa a bater as asas quando eu brinco com criança, vejo a lua, tenho uma conversa amena, lembro da infância, ando de mãos dadas, vejo as luzes da cidade... Acho que a qualquer momento eu levanto voo.

Jéssica Alves
Com licença poética

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
-- dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.

Adélia Prado

segunda-feira, 17 de novembro de 2014



O meu amor por você não surgiu do nada. Deus não plantou ele em mim, regou, floriu e pronto. Foi um amor construído, batalhado. Deus só me disse que eu tinha que amar e me amou para eu entender como era. Está entre as melhores coisas que eu já fiz na vida, então faço questão de assumir como um feito meu, não divido a autoria com o destino, o acaso, a sorte. Para viver esse amor foi preciso persistência, paciência e olhar a longo prazo. Foi dolorido me despir do meu egoísmo, mas foi gratificante me ver vestida de cumplicidade. 

Jéssica Alves

sexta-feira, 14 de novembro de 2014



Eu nasço e renasço inúmeras vezes se for necessário. Em cada nascimento quero estar mais parecida com o que desejo ser, com o que minha alma precisa que eu seja. 
O tempo passa tão depressa e nós vamos correndo no ritmo dele, tentando abocanhá-lo e, quando nos damos conta, já estamos longe de nós mesmos. Nossa mente, corpo, energia e força estão todos focados em pontos pequenos e nossa alma, que tem fome do que é grande, está em descompasso com o resto.
Então a gente se dá conta de que precisa morrer e deixar enterrado tudo aquilo que nos é estranho. Depois nascer de novo, fazendo acordar o que sempre foi nosso.

Jéssica Alves

quinta-feira, 13 de novembro de 2014






... E tem gente que mesmo quando parte continua com a gente.



quarta-feira, 12 de novembro de 2014


Queremos ser vistos como realmente somos, mas não nos mostramos inteiramente. Ficamos tão preocupados em nos proteger, que quem está de fora só enxerga a nossa casca dura e grossa. Se esbarramos em alguém, só conseguimos sentir a casca dura e grossa do outro. 
Criticamos quem usa máscaras, mas já vestimos a fantasia inteira. São motivos diferentes, você vai dizer. Pode até ser, mas, no fim, o resultado é o mesmo, ninguém vê o que você é.
Deixar as coisas externas perfurarem a nossa armadura até chegar em nós pode parecer dolorido, mas também pode trazer encantos, encontros, transformações... É o melhor que alguém pode fazer por si. Nessa vida você pode fugir de quem quiser, menos de você mesmo.

Jéssica Alves

terça-feira, 11 de novembro de 2014



Eu já virei noites tentando entender que harmonia delicada é essa que existe entre nós e que faz todos os meus órgãos sorrirem aqui dentro quando te tenho por perto. Você não sabe, mas eu daria um milhão de sorrisos só pra te ver sorrir de volta para mim.

Jéssica Alves



“Escreva minha filha, escreva. Quando estiver entediada, nostálgica, desocupada, neutra, escreva. Escreva mesmo bobagens, palavras soltas. Experimente fazer versos, artigos, pensamentos soltos. Descreva, como exercício, o degrau da escada do seu edifício (saiu um verso sem querer). Escreva sempre, mesmo para não publicar. E principalmente para não publicar. Não tenha a preocupação de fazer obras primas; que de a muito já perdi, se é que um dia a tive. Mas só e simplesmente escrever, se exprimir, desenvolver um movimento interior que encontre em si próprio sua justificação…” 

Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 10 de novembro de 2014


Acho que você passou os dias da sua infância tão pertinho do mar que seu olhar incorporou aquela profundidade, aquela fluidez e os momentos ora de vagareza, ora de inquietude. Olhos que, no início, trouxeram a necessidade cautelosa de me manter longe, tentando descobrir até que altura eu poderia permanecer sem correr o risco de ser tragado. Olhos que, hoje, já familiarizado, geram uma vontade imediata de mergulhar e de sentir o que nunca senti antes. 
Eu demorei para entender o porquê de toda aquela sua fascinação pela lua. Não poderia ser diferente. Quem carrega o mar nos olhos tem uma ligação natural com ela, estabelecida desde o início dos tempos.  Todos gostam de admirá-la, é claro, mas você fixava o olhar e se perdia. Quando a lua é cheia, o mar do seu olhar se enche tanto que, às vezes, escorre, você sente o gosto salgado nos seus lábios e relembra o que sentia quando era criança. Por alguns instantes me sinto invadindo toda a sua história e te vejo menina. Gosto do que vejo. Você brincando naquele tempo não é muito diferente de quando brinca hoje.

Jéssica Alves


sábado, 8 de novembro de 2014


O amor daqueles dois nasceu no olhar e desceu pro coração. Ela viu nele o que ele tentava mostrar há séculos e ninguém via. Ele viu nela o que ninguém tinha visto porque ela sempre escondia.

Jéssica Alves

sexta-feira, 7 de novembro de 2014


Quando você tenta ser aquilo que o outro é, suas atitudes copiadas saem tortas, mal feitas, descombinadas. O que a gente é tem a medida dos nossos sentidos, não adianta querer ser mais se você não entende isso. A gente não cresce conforme a idade ou a cada aniversário feito, crescemos cada vez que a nossa alma é tocada. Quando você vê a criança sorrindo e se ri todo por dentro sua alma cresce. O crescimento do corpo é importante, mas é coisa comum, todo mundo consegue. Mas quando a gente cresce na alma deveria virar notícia de jornal porque está cada vez mais escasso. 
Quando um jovem passa no curso que ele queria todo mundo faz uma festa, escreve em faixas, tira fotos, se pinta todo, relembra nossas raízes indígenas que tem para cada evento uma pintura específica, sai até no jornal. Mas se esse jovem chora só por ter visto o mar, ninguém quer saber.
Chorar é perder tempo, ver o mar é perder tempo, assim como ver todas essas coisas pequenas e tentar transformá-las em grandes. Destruam tudo o que nos faz perder tempo, otimizar é nosso lema. Quem vai parar para olhar essa árvore? Destrua! E esses pássaros todos? Quem precisa disso para viver?
Enquanto isso, a nossa soberba vai crescendo, a nossa ganância vai crescendo, a nossa cidade vai crescendo — tumultuada, descontrolada, mas vai — só que a gente não cresce. Paramos no tempo. Aonde vou, só vejo bebês emocionais. Aí quando consigo encontrar uma criança no meu caminho, não tem jeito, eu preciso parar, ir até ela, pedir pelo amor de Deus alguns conselhos, porque criança, no fundo, é grande, a gente sabe disso. Não é a toa que no Melhor Lugar há um cantinho reservado só para elas.

Jéssica Alves

quinta-feira, 6 de novembro de 2014



Sempre quis ao meu lado alguém que conseguisse criar laços, que não se limitasse a um enfeite. Alguém que pudesse se entrelaçar até que os de fora vissem um só, com o colorido de dois.

Jéssica Alves

Por muito tempo levei comida até a boca dos meus medos. Foram anos aninhada com as asas sobre eles. Era só a tempestade apontar no caminho, que eu corria, juntava cada um bem pertinho de mim e ficava ali, encolhida, esperando o vendaval passar. Vinha a calmaria e eu permanecia ali, aninhada, no mesmo galho, na mesma árvore. Meus medos eram tão famintos que não sobrava muito para mim, fui definhando. Dava pequenos voos e logo voltava, não podia deixá-los. As tempestades começaram a ser mais constantes e intensas, vinham com toda aquela força destruidora e arrastavam consigo um dos meus filhotes, sem que eu quisesse. Meu ninho foi esvaziando e, para o meu estranhamento, eu saía de cada tempestade mais forte. Comecei a me sentir nutrida, a ter mais fome de viver, dei voos mais distantes, desaninhei. Conheci muitos jardins, aprendi a cantarolar até na chuva. Às vezes me pego pensando que se eu me engaiolasse talvez tudo seria mais fácil, mas logo eu me lembro que sou imensidão, mal caibo nos limites do meu corpo, não caberei entre ferros.

Jéssica Alves

Me firmo numa rocha de coisas leves e a cada dia preciso soltar novas amarras. Amarras que me impuseram, amarras que eu mesma fiz. O que me faz feliz é leve, não precisa de códigos, senhas e fórmulas. Está disponível para quem quiser, para quem não tem medo de flutuar, para quem sente pavor em se fincar e, ali, ir se enterrando por causa do peso que carrega.

Jéssica Alves


O meu amor me beijou com afeto:
Plantou carinho

Flori ternura
Colheu amor

Jéssica Alves


Vivo a vida
Amplamente
Razão no peito
Coração à frente!

Jéssica Alves


Seu sorriso 
Inundou 
Minha mente 
Escorreu amor 
Esparr(amei-o) 
entre a gente


Jéssica Alves

quarta-feira, 5 de novembro de 2014


Cada estrela parece uma eternidade. Quando eu era criança gostava de seguir o brilho das estrelas. E minha mãe quando era criança já seguia o brilho delas, soube que minha avó também seguia esses brilhos. A estrela que brilha já deixou de existir há anos. Um brilho morto, sem vida. As estrelas mortas estão lá porque alguém precisa delas, porque alguém decidiu que, depois de mortas, brilhariam lá em cima e decidiu que, se quisermos, poderemos ser como as estrelas.

Jéssica Alves


O olhar parado, em qualquer lugar, pra deixar de ver o de fora e só olhar o de dentro e se espantar ao escutar a Voz que vive em mim e que me diz o certo e o errado, mesmo sem palavras.

Jéssica Alves













Feliz, sempre dizia:
- Pai, obrigada, amo o sol que criaste
Depois que te conheci, felicidade em dobro:
- Pai, obrigada, há um sol fora e outro dentro de mim

Jéssica Alves