quinta-feira, 24 de março de 2011


Eu tenho uma espécie de dever, de dever de sonhar sempre, pois sendo mais do que uma espectadora de mim mesma, eu tenho que ter o melhor espetáculo que posso. E assim me construo a ouro e sedas, em salas supostas, invento palco, cenário para viver meu sonho entre luzes brandas e músicas invisíveis.


Fernando Pessoa

terça-feira, 22 de março de 2011



"Porque aos seus anjos dará ordens a teu respeito, para que te guardem em todos os teus caminhos. Eles te sustentarão nas suas mãos, para não tropeçares..."

Salmos 91.11,12

sexta-feira, 18 de março de 2011

Mas, felizmente, não é bem assim. Há uma saída – falar, falar muito. São as palavras que suportam o mundo, não os ombros. Sem o “porquê”, o "sim”, todos os ombros afundavam juntos. Basta uma boca aberta (ou um rabisco num papel) para salvar o universo. Portanto, meus amigos, eu insisto: falem se parar. Mesmo sem assunto.

Paulo Henriques Britto

quinta-feira, 17 de março de 2011


Amigo, para mim, é só isto: é a pessoa com quem a gente gosta de conversar, do igual o igual, desarmado. O de que um tira prazer de estar próximo. Só isto, quase; e os todos sacrifícios. Ou — amigo — é que a gente seja, mas sem precisar de saber o por quê é que é.

João Guimarães Rosa

sexta-feira, 11 de março de 2011

Que viagem ficar aqui, parada.

Alice Ruiz

terça-feira, 8 de março de 2011

Já que é 8 de março...


Receita de mulher

As muito feias que me perdoem, mas beleza é fundamental.
É preciso que tudo isso seja belo. (...) É preciso que a mulher que ali está seja bela ou tenha pelo menos um rosto que lembre um templo e seja leve como um resto de nuvem: mas que seja uma nuvem com olhos e nádegas. Nádegas é importantíssimo. Olhos então, nem se fala, que olhe com certa maldade inocente. Uma boca fresca (nunca úmida!) é também de extrema pertinência.
É preciso que as extremidades sejam magras; que uns ossos despontem, sobretudo a rótula no cruzar das pernas, e as pontas pélvicas no enlaçar de uma cintura semovente.
Gravíssimo é porém o problema das saboneteiras: uma mulher sem saboneteiras é como um rio sem pontes. Indispensável.
Que haja uma hipótese de barriguinha e que seus seios sejam uma expressão greco-romana, e possam iluminar o escuro com uma capacidade mínima de cinco velas.
Que haja um certo volume de coxas e que elas sejam lisas, lisas como a pétala e cobertas de suavíssima penugem, no entanto, sensível à carícia em sentido contrário. É aconselhável na axila uma doce relva com aroma próprio apenas sensível (um mínimo de produtos farmacêuticos!).
Preferíveis sem dúvida os pescoços longos de forma que a cabeça dê, por vezes, a impressão de nada ter a ver com o corpo, e a mulher não lembre flores sem mistério. Pés e mãos devem conter elementos góticos discretos.
A pele deve ser fresca nas mãos, nos braços, no dorso, e na face, mas que as concavidades e reentrâncias tenham uma temperatura nunca inferior a 37 graus centígrados, podendo eventualmente provocar queimaduras do primeiro grau.
Os olhos, que sejam de preferência grandes e de rotação pelo menos tão lenta quanto a da Terra; e que se coloquem sempre para lá de um invisível muro de paixão que é preciso ultrapassar. Que a mulher seja em princípio alta ou, caso baixa, que tenha a atitude mental dos altos píncaros.
Ah, que a mulher dê sempre a impressão de que se fechar os olhos, ao abri-los, ela não estará mais presente com seu sorriso e suas tramas.
Que ela surja, não venha; parta, não vá e que possua uma certa capacidade de emudecer subitamente e nos fazer beber o fel da dúvida.
Oh, sobretudo que ela não perca nunca, não importa em que mundo, não importa em que circunstâncias, a sua infinita volubilidade de pássaro; e que se acariciada no fundo de si mesma, transforme-se em fera sem perder sua graça de ave; e que exale sempre o impossível perfume; e destile sempre o embriagante mel; e cante sempre o inaudível canto da sua combustão; e não deixe de ser nunca a eterna dançarina do efémero; e em sua incalculável imperfeição constitua a coisa mais bela e mais perfeita de toda a criação inumerável.

(Vinícius de Morais)


(...) "E todo o conjunto deve exprimir a inquietação e espera. Espera, eu disse? Então vou indo, que senão, me atraso!

Vinícius que me perdoe plagiá-lo. Mas beleza é fundamental."

(Millôr Fernandes)


sábado, 5 de março de 2011

Há um pássaro azul no meu coração que
quer sair, mas estou muito duro com ele.Eu disse: “Fique aí, não vou deixar ninguém ver você”.


Há um pássaro azul no meu coração que quer sair…
mas sou muito esperto.
Eu só deixo-o sair à noite, às vezes,
quando todos estão dormindo.
Eu falo: “Eu sei que você está aí,
não fique triste”.
Então eu coloco-o de volta,
mas ele canta pouco lá.
Eu não o deixo morrer.
E nós dormimos juntos, como
se fosse nosso pacto secreto.
E é bom o suficiente para fazer um homem chorar,
mas eu não choro.
E você?

Charles Bukowski

sexta-feira, 4 de março de 2011

"O Dito dizia que o certo era a gente estar sempre brabo de alegre, alegre por dentro, mesmo com tudo de ruim que acontecesse, alegre nas profundas.

Podia? Alegre era a gente viver devagarinho, miudinho, não se importando demais com coisa nenhuma."


João Guimarães Rosa

Sei que pretendia dizer alguma coisa muito especial pra você, alguma coisa que faria você largar tudo e vir correndo me ver.

C.F.A

quinta-feira, 3 de março de 2011

Oh Deus, como estou sendo feliz. O que estraga a felicidade é o medo.
Clarice Lispector