Eu corri anos em um corredor apertadíssimo e, quando cheguei ao final, havia uma porta de ferro coberta de fechaduras e cadeados de cima a baixo. A primeira reação foi descer o chute. Eu ia passar por ali de qualquer jeito, falem o que quiserem, ou melhor, fiquem todos calados, porque o que eu suei para chegar ali só eu sabia. Depois dos murros que eu dei em vão, recuei, dei meia-volta. Voltei calejada, de cabeça baixa, meio cambaleando, sem saber para onde ir. A minha vida havia sido reduzida àquela corrida e depois que vi a minha única saída trancada, tive que considerar qualquer janela aberta. Quanta beleza há na recuada! Quanta beleza vi em meu caminho após a meia-volta. Eu vi minha única saída ser transformada numa busca por novas entradas, me descobri adaptável, me conheci reinventada. Hoje, o meu maior prazer não está em estabelecer e completar maratonas, mas em sair delas sabendo que toquei num novo ponto do meu ser, que abri novas janelas dentro de mim e senti ar fresco circulando por lugares antes inabitados em meu ser.
Jéssica Alves