sexta-feira, 27 de novembro de 2015


A Segunda Pessoa 
Era o Verbo
Que em prosa e verso 
Se fez Poesia
Conjugou-se em Amor
Conjugou-se em Vida 
Virou o Para Sempre
Um Poema Sem Fim

.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

O meu pai me contava que a primeira vez que a pessoa se apaixona muda a vida dela para sempre e, por mais que você tente, o sentimento nunca desaparece. 

Nicholas Sparks

quarta-feira, 21 de outubro de 2015


Por um segundo eu vivo como quem há anos tenta
Por um segundo eu tento viver como alguém
No mesmo segundo eu caio
e já não é mais o mesmo segundo
É ainda o resto de um segundo que já não existe
Não existe nada além do segundo
que no segundo em que eu escrevia já passou

Por um segundo eu finjo que não importa
Por um segundo eu entro pela porta
Que em um outro segundo passado
Eu vi fechada como que definitiva
É ainda a mesma porta
Mas é outro segundo já agora
Outro do qual eu não mais tenho

Por um segundo eu amo como um mortal
E adoro como um deus infinito
Por um segundo eu grito calado
A impressão de ouvir o som
É ainda o mesmo som
Mas já é agora em outro lugar
Outro no qual não estou

Por um segundo eu morro apressado
Pra renascer no outro a seguir
Por um segundo eu renasço sentindo
A sensação de deixar um amor
É ainda o mesmo amor
Mas esse já não é meu
É de outro alguém que não sou

Por um segundo sou forte
Pra trair o meu peito no segundo seguinte
Por um segundo eu pareço distante
Do resto do resto do mundo
É ainda o mesmo mundo
Mas é outro de que me esqueço
Quando me lembro por um segundo

Guilherme Sanches
O ideal seria uma menina boba:
que gostasse de ver folha cair de tarde…
Que só pensasse coisas leves que nem existem na terra,
E ficasse assustada quando ao cair da noite
Um homem lhe dissesse palavras misteriosas

Manoel de Barros

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Existe um caminho em mim
Nesse caminho percorrem
As suas verdades e as minhas

Existe um caminho em mim
Nesse caminho a sua mão
Sua junto com a minha

Existe um caminho em mim
Nesse caminho o seu sim
Confronta o meu talvez

Existe um caminho em mim
Nesse caminho o mesmo vale
Que separa é também o que une

quinta-feira, 15 de outubro de 2015


Uma vida toda que poderia ter sido e que não foi.



segunda-feira, 12 de outubro de 2015


Mesa pra um

Eu esperei tanto por essa primavera, pelas flores que ela traria, e, olha só, esse frio veio para congelar o que eu trago aqui. Ontem andei pelas ruas sozinha. Mãos geladas, escuridão e um frio que parecia rasgar a minha pele, só para escolher um lugar. Eu me fecho tanto em mim, que isso foi o melhor que pude fazer. Dizem que faz bem externar a realidade interna. Eu saí.

Voltei pelas mesmas ruas. Os portões cheios de orvalho. Ninguém para me desviar das poças. O frio veio para isso, para anunciar que vou continuar conversando comigo pelas ruas molhadas e que minhas mãos geladas vão continuar geladas por um bom tempo.


quinta-feira, 8 de outubro de 2015




Tenho a necessidade disso. Ouvir outros sons. Conhecer outras gentes. Cheirar outras terras e gostar delas e partir delas. Aplicar todos os meus sentidos em lugares diferentes. Tornar próximo o distante. Ver o novo de fora pra reconhecer o de dentro.


quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Solidão é suportável
Insuportável é
estar junto de alguém
e tão distante de si.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Somos assim. Sonhamos o voo, mas tememos as alturas. Para voar é preciso amar o vazio. Porque o voo só acontece se houver o vazio. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Os homens querem voar, mas temem o vazio. Não podem viver sem certezas. Por isso trocam o voo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde as certezas moram.

É um engano pensar que os homens seriam livres se pudessem, que eles não são livres porque um estranho os engaiolou, que se as portas das gaiolas estivessem abertas eles voariam. A verdade é o oposto. Os homens preferem as gaiolas ao voo. São eles mesmos que constroem as gaiolas onde passarão as suas vidas.

Rubem Alves

sexta-feira, 2 de outubro de 2015



Gosto de estar a teu lado,
Sem brilho.
Tua presença é uma carne de peixe,
De resistência mansa e de um branco
Ecoando azuis profundos.

Eu tenho liberdade em ti.
Anoiteço feito um bairro,
Sem brilho algum.

Estamos no interior duma asa
Que fechou.

Mário de Andrade

segunda-feira, 28 de setembro de 2015



Ao Amor Antigo

O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.

O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.

Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
a antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.

Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.

Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Sobre vida sentimental - conselhos

https://youtu.be/WkGot9-SGzQ

Lucinho Barreto

sábado, 12 de setembro de 2015



A crise revela o nosso caráter. O que você faz ou como se comporta após uma crise é a sua essência verdadeira. Se você está internamente podre, a crise vem para tirar a sua tampa e, a partir disso, os seus atos terão o seu verdadeiro cheiro e a sua verdadeira cor.

"O homem bom, do bom tesouro do seu coração, tira o bem, e o homem mau, do mau tesouro do seu coração, tira o mal, porque da abundância do seu coração fala a boca." - Lucas 6:45

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Somos donos dos nossos atos
mas não donos dos nossos sentimentos
Somos culpados pelo que fazemos
mas não pelo que sentimos
Podemos prometer atos
mas não podemos prometer sentimentos
Atos são pássaros engaiolados
Sentimentos são pássaros em vôo

Rubem Alves

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Todos os homens voltam para casa
Estão menos livres mas levam jornais
e soletram o mundo, sabendo que o perdem

Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Noite e dia

Não me agradam
essas coisas que despertam
barulho, susto, água fria
tudo na minha cara
mas nenhum sonho por perto

Não me agradam
essas coisas que adormecem
vazio, escuro, calmaria
tudo que lembra morte
quando nada mais dá certo

Não me agradam
essas coisas sem poesia
uma noite só noite
um dia só dia

Alice Ruiz

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

A sua graça caiu no meu olhar e já não sei se toda essa loucura que você pinta é realmente maior que a minha. Vezenquando encontro seus olhos observando os meus discretamente e eu adoro o seu jeito desconcertado de tentar ser discreto, de tentar esconder de você mesmo o que meio mundo já percebeu. Porque você sabe - e eu também sei-, que a gente se encontrou num desencontro, nada havia sido marcado por três vezes consecutivas e qualquer coisa entre nós seria inatingível. Ainda assim, você chegava antecipado, com seu riso fácil e suas mil graças. Eu fingia que ignorava, você fingia que não se importava. Com o canto dos olhos você conseguia captar sorrisos de canto de boca e ria junto por dentro. Você saía de perto querendo voltar e eu ficava, querendo que você não saísse nunca.



terça-feira, 25 de agosto de 2015



Según se sabe, esta mudable vida
Puede, entre tantas cosas, ser muy bella

Jorge Luis Borges

sexta-feira, 14 de agosto de 2015

Falou de música, de versos, de flores e de artes. Quando a ironia não lhe acerava a palavra, ela tinha uma exuberância de afeto e ternura que manava de seus lábios e derramava em torno de si uma atmosfera de amor.

Senhora, José de Alencar

-

Quando aparecia, era sempre distraída e tinha o aspecto dessas pessoas que se habituam a viver no mundo da fantasia, e que sentindo-se como aturdidas quando descem à realidade, refugiam-se em suas quimeras.

Senhora, José de Alencar

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Senhora submissa

Pedir bem baixinho
muitas vezes é o tom
da submissão feminina
que dá à mulher
o que ela quer
quando pedido

Pedir com carinho
é um toque,
é uma ordem,
é o pito
que dá ao homem
a ilusão de ser seu
o infinito

Saulo Pessato
Castanhos

Quem disse que precisam ser claros
para serem lindos?
Para serem o que são?
A tempestade que chega
assombra o verde
e é muito mais intensa
que o azul do céu.
Selvagem!
seus...

Saulo Pessato

quarta-feira, 5 de agosto de 2015



Encruzilhada: todos os caminhos me levam para longe de mim. Eu só queria seguir com o meu todo sempre e não sei como acreditei que pedaços de mim seriam suficientes. Não são.

Jéssica Alves

terça-feira, 28 de julho de 2015

Há efetivamente um heroísmo de virtude na altivez dessa mulher, que resiste a todas as seduções, aos impulsos da própria paixão, como ao arrebatamento dos sentidos.

Senhora, José de Alencar.

-

As que falam como uma novela, em vil prosa, são essas moças românticas e pálidas que se andam evaporando em suspiros; eu falo como um poema: sou a poesia que brilha e deslumbra!

- Entendo o que você quer dizer; o dinheiro faz do feio bonito, e dá tudo, até saúde. Mas repare bem, os seus maiores admiradores são justamente aqueles que não podem pretender sua riqueza

Senhora, José de Alencar

-

Era uma expressão fria, pausada, inflexível, que jaspeava sua beleza, dando-lhe quase a gelidez da estátua. Mas no lampejo de seus grandes olhos pardos brilhavam as irradiações da inteligência. Operava-se nela uma revolução. O princípio vital da mulher abandonava seu foco natural, o coração, para concentrar-se no cérebro, onde residem as faculdades especulativas do homem.

Senhora, José de Alencar.

sexta-feira, 24 de julho de 2015



É preciso pensar. É preciso sentir. Não é aceitável quem só sente, mas é pavoroso quem só raciocina. O "sentimental" é visto com tanto desdém, mas que horror do "animal racional"! Desse eu não me aproximo nunca. Saio correndo com desespero porque esse é o verdadeiro exterminador da humanidade. Humanidade em todos os seus sentidos.

O sentimental põe seu coração à frente de tudo. E que perigo! Já advertia o provérbio há séculos atrás: "Guarde o seu coração". Guarde o seu coração! Sua vida depende disso. Mas o que nunca foi escrito é "Ignore-o. Finja que não tem um, até que você pare de sentir." 

Que haja sempre essa combinação de opostos, o pensar e o sentir. Contraditórios e necessários. Que o ser humano seja humano, com todas as suas contradições bem vivas. Que não sejam máquinas, tudo certinho nas gavetas. Abaixo os cérebros ambulantes!

segunda-feira, 15 de junho de 2015

Não foi à toa que Adélia Prado disse que "erótica é a alma". Enganam-se aqueles que pensam que erótico é o corpo. O corpo só é erótico pelos mundos que andam nele. A erótica não caminha segundo as direções da carne. Ela vive nos interstícios das palavras. Não existe amor que resista a um corpo vazio de fantasias. Um corpo vazio de fantasias é um instrumento mudo, do qual não sai melodia alguma. Por isso, Nietzsche disse que só existe uma pergunta a ser feita quando se pretende casar: "continuarei a ter prazer em conversar com esta pessoa daqui a 30 anos?"

Rubem Alves



 PARÁFRASE

Amor é isso:
Quando o coração 
encontra em uma fonte só 
o calor para corpo e alma



Jéssica Alves

sexta-feira, 12 de junho de 2015



Quando Rubem Alves me apresentou o que era poesia segundo Emily Dickinson, de pronto entendi o que era a poesia para mim. Se algo cria um redemoinho no meu interior e levanta lembranças ternas que já estavam assentadas como poeira no meu chão, então eu sei que aquilo é poesia. Se algo invade meu corpo como um rio de água quente que mesmo se todo o gelo da Antártida fosse jogado em mim eu não seria capaz de esfriar, então eu sei que aquilo é poesia.

Jéssica Alves

Frango com quiabo


Golpes duros na vida me fizeram descobrir a literatura e a poesia. Ciência dá saberes à cabeça e poderes para o corpo. Literatura e poesia dão pão para corpo e alegria para a alma. Ciência é fogo e panela: coisas indispensáveis na cozinha. Mas poesia é o frango com quiabo, deleite para quem gosta...

Rubem Alves

sexta-feira, 15 de maio de 2015


Saúdo-os e desejo-lhes sol, 
E chuva, quando a chuva é precisa, 
E que as suas casas tenham 
Ao pé duma janela aberta 
Uma cadeira predileta 
Onde se sentem, lendo os meus versos. 
E ao lerem os meus versos pensem 
Que sou qualquer cousa natural — 
Por exemplo, a árvore antiga 
À sombra da qual quando crianças 
Se sentavam com um baque, cansados de brincar, 
E limpavam o suor da testa quente 
Com a manga do bibe riscado.

Fernando Pessoa
Não tenho ambições nem desejos
ser poeta não é uma ambição minha
É a minha maneira de estar sozinho

Fernando Pessoa

segunda-feira, 4 de maio de 2015



“Um homem precisa viajar. Por sua conta, não por meio de histórias, imagens, livros ou TV. Precisa viajar por si, com seus olhos e pés, para entender o que é seu. Para um dia plantar as suas próprias árvores e dar-lhes valor. Conhecer o frio para desfrutar o calor. E o oposto. Sentir a distância e o desabrigo para estar bem sob o próprio teto. Um homem precisa viajar para lugares que não conhece para quebrar essa arrogância que nos faz ver o mundo como o imaginamos, e não simplesmente como é ou pode ser. Que nos faz professores e doutores do que não vimos, quando deveríamos ser alunos, e simplesmente ir ver”

Amyr Klink

quinta-feira, 16 de abril de 2015


"Observei ainda e vi que debaixo do sol não é dos ligeiros a carreira" Eclesiastes 9:11

Observei ainda e vi que debaixo do sol não é dos ligeiros a carreira,

Eclesiastes 9:11

Andar correndo é descaminho. Existe muita história no andar da gente e quem só corre atropela os detalhes importantes. Um passo por vez é a marcha interna. Quem sai como louco por aí, vai só com o corpo e só escuta o som da alma quando já está aos berros.

Jéssica Alves

sexta-feira, 10 de abril de 2015



Carta aberta à minha querida irmã:

Há alguns dias, eu cheguei do trabalho, mal entrei em casa, e soube que você tinha comprado uma casa. Eu sabia que essa era uma coisa feliz, mas, ao mesmo tempo, caiu a minha ficha de que algumas coisas mudariam. É verdade que saudade e mudança são duas coisas que entraram na nossa vida bem cedo e tivemos que aprender a lidar com elas "na marra". Mas é que agora era diferente, muito diferente. Porque, antes, a saudade e a mudança eram enfrentadas com você do lado. Agora, essa saudade e mudança seriam em relação a você. 

Eu sei que eu me irritava profundamente quando você vinha com seu complexo de capitã mandona e me obrigava a te ajudar a arrumar a casa e, principalmente, quando você pegava as minhas coisas (sempre foi meu ponto fraco). Mas é que, apesar disso, te ter como irmã me fazia feliz. A gente sabe o quanto era divertido ir à praia e se misturar com as ondas e ser jogadas de um lado para outro das 8h da manhã até o meio dia, com pausa só para o sagrado picolé de leite condensado. 

O que eu não sabia é que cada fase nossa teria tanta beleza e tanto significado para mim agora. Nossas afinidades são enormes, nossa amizade e cumplicidade só aumentam. Com o passar do tempo, nos tornamos mais próximas, mais maduras nesse amor de irmãs, mais unidas do que nunca e ainda mais bonitas. (lembrando que você sempre foi naturalmente linda e eu bem "marromenos" seguia firme ao seu lado pegando todas as suas dicas).

Fico feliz em saber que vivemos a infância com intensidade e que aquilo que estamos vivendo agora também será lembrado com amor quando estivermos bem velhinhas. Que você compre chocolate branco quando completar 26, 27, 28... até os 95 mais ou menos - e me dê os pretos, por favor!

Feliz dia! Que o nosso Senhor te abençoe sempre!
Te amo!

terça-feira, 31 de março de 2015





Eu não sei me desvincular dessa paz que vem do alto e preenche os meus sentidos trazendo uma alegria de viver, uma vontade de sorrir pro nada, de não me doer com aquilo que os desgostosos costumam se doer.
É uma calmaria tão intensa que aquieta os dissabores dessa vida, eles começam a piar baixinho, baixinho e o segredo da paz é esse: o silêncio dentro, não fora.


Jéssica Alves

segunda-feira, 30 de março de 2015


                   O Utopista

Ele acredita que o chão é duro
Que todos os homens estão presos
Que há limites para a poesia
Que não há sorrisos nas crianças
Nem amor nas mulheres
Que só de pão vive o homem
Que não há um outro mundo.

                Murilo Mendes

quinta-feira, 19 de março de 2015


Ninguém faz poesia. Ela por si só existe e elege um canto-morada para se estabelecer. Vem um olhar cuidadoso, ou qualquer outro sentido nosso, e a arremata, dando início a uma série de suspiros. Que eu viva para isso, descobri-la, desnudá-la. Quem precisa de respostas na ponta da língua? Na minha língua quero versos e em meu peito, uma multidão deles.

Jéssica Alves

segunda-feira, 2 de março de 2015

É talvez o último dia da minha vida.
Saudei o sol, levantando a mão direita,
Mas não o saudei, dizendo-lhe adeus,
Fiz sinal de gostar de o ver antes: mais nada. 

Alberto Caeiro

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015


Que eu preencha com poesia o espaço entre um sorriso e outro. As duas pontas serão a poesia em sua forma bruta, livre, fácil. O miolo disso será a poesia trabalhada, lapidada, que sai com demora, sufoco, esforço, mas que nem por isso tem menor beleza.

Jéssica Alves

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Razão de ser

Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?

Paulo Leminski

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015



As minhas falas eu perdi pelo caminho. Não sei bem onde, quando e nem ao menos o porquê. O que eu sei é que comecei a sentir uma leve dor no peito. Era sintoma de cada palavra não dita. Fui enfurnando tudo aqui dentro e agora tenho feito um esforço danado para expulsá-las de outro jeito. A minha espontaneidade saiu devagarinho e deu lugar a um medo que nunca imaginei que caberia em mim. O meu riso fácil agora sai mais trabalhoso. Não dá pra entender. Era uma e agora é outra. Quem viu antes, já nem reconhece mais. Dá vontade de ir até lá e pedir desculpas um a um porque eu deixei morrer aquela outra, eu deixei que a matassem, coitadinha. Os de agora eu encaro facilmente porque não sabem o que foi perdido, não vão poder  mensurar nunca a dor da mudança. Eu, às vezes, até conto histórias, muitas em vão, ninguém acredita, pensam que é minha imaginação, exagero, invenção, não sei. Os de antes, sim, desses eu desvio o olhar. Quando param e me olham e só com o olhar eu sinto a cobrança, sinto o tamanho da falta que pus neles, porque a de agora não chega aos pés daquela de antes e ela também me enche de saudades.

Jéssica Alves

quarta-feira, 21 de janeiro de 2015



Cada pequena coisa que vem de você alcança uma proporção tão grande no meu coração porque simplesmente vem cercada de sentimento, vem pra me atingir do modo mais certeiro. Eu fui programada para desejar o que eu não posso comprar e o que eu mais espero de nós se resume a isso, às coisas que eu não compro e nem pego com as mãos, só as alcanço se for com os meus sentidos.

Jéssica Alves

Não seja outro. Seja o que marquei em seu sangue. Enchi sua carne de você. Busque isso. E, ao encontrar, seja o que ninguém mais pode ser.

Ray Bradbury

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015


Eu corri anos em um corredor apertadíssimo e, quando cheguei ao final, havia uma porta de ferro coberta de fechaduras e cadeados de cima a baixo. A primeira reação foi descer o chute. Eu ia passar por ali de qualquer jeito, falem o que quiserem, ou melhor, fiquem todos calados, porque o que eu suei para chegar ali só eu sabia. Depois dos murros que eu dei em vão, recuei, dei meia-volta. Voltei calejada, de cabeça baixa, meio cambaleando, sem saber para onde ir. A minha vida havia sido reduzida àquela corrida e depois que vi a minha única saída trancada, tive que considerar qualquer janela aberta. Quanta beleza há na recuada! Quanta beleza vi em meu caminho após a meia-volta. Eu vi minha única saída ser transformada numa busca por novas entradas, me descobri adaptável, me conheci reinventada. Hoje, o meu maior prazer não está em estabelecer e completar maratonas, mas em sair delas sabendo que toquei num novo ponto do meu ser, que abri novas janelas dentro de mim e senti ar fresco circulando por lugares antes inabitados em meu ser.

Jéssica Alves

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Quando escrever o livro com o meu nome
e o nome que eu vou pôr nele, 

vou com ele a uma igreja,
a uma lápide, a um descampado,
para chorar, chorar, e chorar,
requintada e esquisita como uma dama.


Adelia Prado

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quinta-feira, 8 de janeiro de 2015



Impressionista

Uma ocasião,
meu pai pintou a casa toda
de alaranjado brilhante.
Por muito tempo moramos numa casa,
como ele mesmo dizia,
constantemente amanhecendo.

Adélia Prado

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terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Sou um barco
sem vento.
Tu eras o vento.
Era esse o rumo que eu devia seguir?
A quem importa o rumo
com um vento assim!

Olav H. Hange