Eu não queria destruir nada nem ninguém só queria sair de fininho pela porta dos fundos, sem causar alvoroço nem consequências e depois só parar de correr quando chegasse à Groenlândia.
Elizabeth Gilbert
segunda-feira, 30 de janeiro de 2012
domingo, 8 de janeiro de 2012
"Os intelectuais me dão pena!"
Os intelectuais são os que divorciam a cabeça do corpo. Eu não quero ser uma cabeça que rola por aí!
Cuidado com quem somente raciocina. Cuidado! Temos que raciocinar e sentir. E quando a razão se separa do coração, comece a tremer. Porque esse tipo pode te levar ao fim da existência humana no planeta. Eu não acredito nisso. Eu acredito nessa fusão contraditória, difícil mas necessária, entre o que se sente e o que se pensa. E se aparece um que só sente, mas não pensa, digo: esse é um sentimental. Mas se for um que só pensa, mas não sente, digo: ai, que medo! Esse é um intelectual! Que coisa espantosa! Uma cabeça que rola. Eu não quero ser uma cabeça.
sábado, 7 de janeiro de 2012
O morcego
Meia-noite. Ao meu quarto me recolho.
Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede:
Na bruta ardência orgânica da sede,
Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.
"Vou mandar levantar outra parede..."
- Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho
E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
Circularmente sobre a minha rede!
Pego de um pau. Esforços faço. Chego
A tocá-lo. Minh’alma se concentra.
Que ventre produziu tão feio parto?!
A Consciência Humana é este morcego!
Por mais que a gente faça, à noite, ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto!
Augusto dos Anjos
Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede:
Na bruta ardência orgânica da sede,
Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.
"Vou mandar levantar outra parede..."
- Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho
E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
Circularmente sobre a minha rede!
Pego de um pau. Esforços faço. Chego
A tocá-lo. Minh’alma se concentra.
Que ventre produziu tão feio parto?!
A Consciência Humana é este morcego!
Por mais que a gente faça, à noite, ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto!
Augusto dos Anjos
segunda-feira, 2 de janeiro de 2012
Toadinha de ano novo
Que vocês tenham mais Jobim e mais Caymmi; mais paixão e menos crime. Que vocês tenham mais Drummond e mais Bandeira, e eles deixem de leseira e venham mais para a rua. [...]
Que João Gilberto continue longe e perto, cantando pelo deserto seu canto de solidão. Canto que vende para a causa brasileira muito mais que o Bemoreira, o Rei da Voz e o Dragão.
Que Pixinguinha, já curado seu enfarte, nos dê mais de sua arte de sambista e de "chorão".
Que nasçam poemas, nasçam canções, nasçam filhos; e se terminem os exílios e se exerça mais perdão.
Que todos se unam, se protejam, apertem os cintos; se reúnam nos recintos com esperança brasileira.
E que se dê de comer a quem não come, porque o povo passa fome: e a Fome é má conselheira...
Que o Rei Pelé faça gols por toda parte; e Di Cavalcanti, arte; e o Congresso, leis honestas.
E – que diabo! – que eles voltem, meus pareceiros... Estão todos no estrangeiro. Que fazem vocês aí? Voltem depressa, venham logo para casa, que é pra gente mandar brasa ao som do Quarteto em Cy.
E finalmente que eu, pequeno mas decente, siga sempre para a frente com meu amor ao meu lado. E ela me dê no mais próximo presente, o presente de um futuro sem as dores do passado.
Que Pixinguinha, já curado seu enfarte, nos dê mais de sua arte de sambista e de "chorão".
Que nasçam poemas, nasçam canções, nasçam filhos; e se terminem os exílios e se exerça mais perdão.
Que todos se unam, se protejam, apertem os cintos; se reúnam nos recintos com esperança brasileira.
E que se dê de comer a quem não come, porque o povo passa fome: e a Fome é má conselheira...
Que o Rei Pelé faça gols por toda parte; e Di Cavalcanti, arte; e o Congresso, leis honestas.
E – que diabo! – que eles voltem, meus pareceiros... Estão todos no estrangeiro. Que fazem vocês aí? Voltem depressa, venham logo para casa, que é pra gente mandar brasa ao som do Quarteto em Cy.
E finalmente que eu, pequeno mas decente, siga sempre para a frente com meu amor ao meu lado. E ela me dê no mais próximo presente, o presente de um futuro sem as dores do passado.
Vinicius de Morais em 1º de Janeiro de 1965
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