Eduardo, louco em férias, poeta disfarçado em burocrata, levanta-se todos os dias com péssimo humor, para ser devorado pelo relógio de ponto.
Adora olhar pela janela. Está sempre olhando pela janela, muito embora nada aconteça.
Acredita nos homens, entregaria sua vida por eles, porque é um tolo, um humanista impenitente, um amante das grandes causas, um aprendiz de santo, um sofredor pela miséria alheia, uma vítima do melodramático, um desprotegido contra a chantagem emocional, com uma farpa da cruz atravessada no coração.
Faz amor com irregularidade, porque não obedece a nenhuma tabela nem tem a mulher ao alcance da mão. Prefere a monogamia, não por moral mas porque já lhe é difícil encontrar uma fêmea com sexo e miolos no lugar.
Desconhece o que é café matinal em família, não tem filhos para levar ao colégio, embora ame as crianças e sinta grande inveja dos que nasceram com suficiente mediocridade para as ter sem saberem por quê.
Parece crescer ao contrário, da velhice para a adolescência.
E enquanto aguarda o momento de nascer, leva seu cão raivoso a passear.
Trechos do poema de Eduardo Alves da Costa.