quinta-feira, 22 de outubro de 2015

O meu pai me contava que a primeira vez que a pessoa se apaixona muda a vida dela para sempre e, por mais que você tente, o sentimento nunca desaparece. 

Nicholas Sparks

quarta-feira, 21 de outubro de 2015


Por um segundo eu vivo como quem há anos tenta
Por um segundo eu tento viver como alguém
No mesmo segundo eu caio
e já não é mais o mesmo segundo
É ainda o resto de um segundo que já não existe
Não existe nada além do segundo
que no segundo em que eu escrevia já passou

Por um segundo eu finjo que não importa
Por um segundo eu entro pela porta
Que em um outro segundo passado
Eu vi fechada como que definitiva
É ainda a mesma porta
Mas é outro segundo já agora
Outro do qual eu não mais tenho

Por um segundo eu amo como um mortal
E adoro como um deus infinito
Por um segundo eu grito calado
A impressão de ouvir o som
É ainda o mesmo som
Mas já é agora em outro lugar
Outro no qual não estou

Por um segundo eu morro apressado
Pra renascer no outro a seguir
Por um segundo eu renasço sentindo
A sensação de deixar um amor
É ainda o mesmo amor
Mas esse já não é meu
É de outro alguém que não sou

Por um segundo sou forte
Pra trair o meu peito no segundo seguinte
Por um segundo eu pareço distante
Do resto do resto do mundo
É ainda o mesmo mundo
Mas é outro de que me esqueço
Quando me lembro por um segundo

Guilherme Sanches
O ideal seria uma menina boba:
que gostasse de ver folha cair de tarde…
Que só pensasse coisas leves que nem existem na terra,
E ficasse assustada quando ao cair da noite
Um homem lhe dissesse palavras misteriosas

Manoel de Barros

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Existe um caminho em mim
Nesse caminho percorrem
As suas verdades e as minhas

Existe um caminho em mim
Nesse caminho a sua mão
Sua junto com a minha

Existe um caminho em mim
Nesse caminho o seu sim
Confronta o meu talvez

Existe um caminho em mim
Nesse caminho o mesmo vale
Que separa é também o que une

quinta-feira, 15 de outubro de 2015


Uma vida toda que poderia ter sido e que não foi.



segunda-feira, 12 de outubro de 2015


Mesa pra um

Eu esperei tanto por essa primavera, pelas flores que ela traria, e, olha só, esse frio veio para congelar o que eu trago aqui. Ontem andei pelas ruas sozinha. Mãos geladas, escuridão e um frio que parecia rasgar a minha pele, só para escolher um lugar. Eu me fecho tanto em mim, que isso foi o melhor que pude fazer. Dizem que faz bem externar a realidade interna. Eu saí.

Voltei pelas mesmas ruas. Os portões cheios de orvalho. Ninguém para me desviar das poças. O frio veio para isso, para anunciar que vou continuar conversando comigo pelas ruas molhadas e que minhas mãos geladas vão continuar geladas por um bom tempo.


quinta-feira, 8 de outubro de 2015




Tenho a necessidade disso. Ouvir outros sons. Conhecer outras gentes. Cheirar outras terras e gostar delas e partir delas. Aplicar todos os meus sentidos em lugares diferentes. Tornar próximo o distante. Ver o novo de fora pra reconhecer o de dentro.


quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Solidão é suportável
Insuportável é
estar junto de alguém
e tão distante de si.

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Somos assim. Sonhamos o voo, mas tememos as alturas. Para voar é preciso amar o vazio. Porque o voo só acontece se houver o vazio. O vazio é o espaço da liberdade, a ausência de certezas. Os homens querem voar, mas temem o vazio. Não podem viver sem certezas. Por isso trocam o voo por gaiolas. As gaiolas são o lugar onde as certezas moram.

É um engano pensar que os homens seriam livres se pudessem, que eles não são livres porque um estranho os engaiolou, que se as portas das gaiolas estivessem abertas eles voariam. A verdade é o oposto. Os homens preferem as gaiolas ao voo. São eles mesmos que constroem as gaiolas onde passarão as suas vidas.

Rubem Alves

sexta-feira, 2 de outubro de 2015



Gosto de estar a teu lado,
Sem brilho.
Tua presença é uma carne de peixe,
De resistência mansa e de um branco
Ecoando azuis profundos.

Eu tenho liberdade em ti.
Anoiteço feito um bairro,
Sem brilho algum.

Estamos no interior duma asa
Que fechou.

Mário de Andrade