Ouvi uma vez certa artista falando sobre a necessidade de se amar enquanto temos as pessoas perto de nós. Ela contava sobre o pai, um senhor já de idade, que, antes de falecer, sempre pedia em tom de súplica: "me liga mais vezes fia, pra falar de você, do seu dia, contar uma gloriazinha..." Do discurso da moça não guardei mais nada. O que entrou nos meus ouvidos e martelou em minha cabeça e não me largou mais foi a frase do senhor. Não o conheci, mas bastou a frase para imaginar um velhinho sempre com aquelas palavrinhas em tom de brincadeira que pegam a gente desprevenidos e causam uma verdadeira reviravolta.
Pensei no que seriam as gloriazinhas do meu dia e gostei de chamá-las assim. Gloriazinhas passam despercebidas às vezes, são coisas miúdas do dia, mas não deixam de ser glórias. Gloriazinhas nos fazem sorrir sem que a gente se dê conta. Minha última gloriazinha foi um abraço inesperado de um menininho que de pequeno tinha só o tamanho e, por causa do tamanho, abraçou só minhas pernas, mas conseguiu me tocar lá no coração.
As gloriazinhas estão por aí aos montes, mas a gente só se concentra nas grandes glórias. Um diploma digno de moldura para ser pendurado à parede, um carro que possa causar inveja, uma casa que evidencie o tamanho do nosso sucesso... e por aí vai. Mas as gloriazinhas são mais democráticas, elas acontecem na vida do mais deserdado dos seres. E só por elas já vale a pena ter nascido.
Jéssica Alves
Jéssica Alves