quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015


Que eu preencha com poesia o espaço entre um sorriso e outro. As duas pontas serão a poesia em sua forma bruta, livre, fácil. O miolo disso será a poesia trabalhada, lapidada, que sai com demora, sufoco, esforço, mas que nem por isso tem menor beleza.

Jéssica Alves

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Razão de ser

Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso,
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?

Paulo Leminski

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015



As minhas falas eu perdi pelo caminho. Não sei bem onde, quando e nem ao menos o porquê. O que eu sei é que comecei a sentir uma leve dor no peito. Era sintoma de cada palavra não dita. Fui enfurnando tudo aqui dentro e agora tenho feito um esforço danado para expulsá-las de outro jeito. A minha espontaneidade saiu devagarinho e deu lugar a um medo que nunca imaginei que caberia em mim. O meu riso fácil agora sai mais trabalhoso. Não dá pra entender. Era uma e agora é outra. Quem viu antes, já nem reconhece mais. Dá vontade de ir até lá e pedir desculpas um a um porque eu deixei morrer aquela outra, eu deixei que a matassem, coitadinha. Os de agora eu encaro facilmente porque não sabem o que foi perdido, não vão poder  mensurar nunca a dor da mudança. Eu, às vezes, até conto histórias, muitas em vão, ninguém acredita, pensam que é minha imaginação, exagero, invenção, não sei. Os de antes, sim, desses eu desvio o olhar. Quando param e me olham e só com o olhar eu sinto a cobrança, sinto o tamanho da falta que pus neles, porque a de agora não chega aos pés daquela de antes e ela também me enche de saudades.

Jéssica Alves