terça-feira, 25 de outubro de 2011
Eles se olhavam para não-distância, estiadamente, sem saberes, sem caso. Mas a moça estava devagar. Mas o moço estava ansioso. O menino, sempre lá perto, tinha de procurar-lhes os olhos... Mas o menino queria que os dois nunca deixassem de assim se olhar. Nenhuns olhos têm fundo; a vida, também, não.
João Guimarães Rosa
segunda-feira, 24 de outubro de 2011
sexta-feira, 14 de outubro de 2011
sábado, 8 de outubro de 2011
Uma a uma.
Acho que nós estamos na época de ir juntando pedrinhas até formar um muro forte. Pode ser que eu esteja fazendo um papel quixotesco, pois afinal, tenho alma de camelô e de lavadeira. No entanto, no dia em que D. Quixote deixou de sonhar, morreu.
João Antônio
quarta-feira, 5 de outubro de 2011
Capitu
“Olhos de cigana oblíqua e dissimulada.” Eu não sabia o que era obliqua, mas dissimulada sabia, e queria ver se podiam chamar assim. Capitu deixou-se fitar e examinar. Só me perguntava o que era, se nunca os vira, eu nada achei extraordinário; a cor e a doçura eram minhas conhecidas.
Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. [...] Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros, mas tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me.
Dom Casmurro, Machado de Assis.
sábado, 1 de outubro de 2011
Eu suplico-vos
fazei qualquer coisa
aprendei um passo
uma dança
alguma coisa que vos justifique
que vos dê o direito
de vestir a vossa pele o vosso pêlo
aprendei a andar e a rir
porque será completamente estúpido
no fim
que tantos tenham sido mortos
e que vós viveis
sem nada fazer da vossa vida.
Charlotte Delbo (1913-1945)
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