sábado, 6 de março de 2010

Eu coleciono momentos de epifania, vivo num estado de contemplação cada vez mais vertiginoso. Dizem que me afeto, que sou afetado… se ver o mundo com as desrazões da emoção é ser afetado, eu sou afetado de um modo muito convincente. Folheio livros como quem procura nas palavras alguma remota calmaria para o silêncio ensurdecedor que existe nos diálogos do mundo. (...)Não importa, sempre vai haver algo a ser dito, mesmo que tudo já tenha sido dito de um outro modo que não o seu próprio modo de expressar algo. Eu sei de pouquissimas coisas, por exemplo, o sol pode me cegar se eu ficar muito tempo olhando pra ele, eu nao posso ficar mais de um minuto trancando a respiração em baixo d’água, as pessoas quando mentem contam a história sempre do mesmo jeito e aquele brilho que elas têm no olhar se apaga por alguns instantes, a dor pode ser suportável desde que você esteja olhando para as nuvens. Eu sei que essas coisas, tão poucas, não me ajudam a viver, mas impedem que eu saia do mundo tão inocente quanto cheguei e dão ao mundo o meu próprio feitio. Tem gente que não dá tanta importância e não acredita em mistérios, mas eu acredito que há mistérios além de toda capacidade de se admirar. Eu realmente estou empolgado com toda esta história de estar vivo, eu só não sei exatamente o que fazer com tanta beleza.


Palavra Aguda.

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